Resumo: | Dentre o conjunto da obra em prosa de Jorge de Lima, Salomão e as Mulheres, publicado em 1927, é o livro mais destoante, denotando o seu caráter experimental e profundamente peculiar. Não é a toa que, alguns anos mais tarde, a mesma trama será reescrita e elaborada sob a forma de um novo romance, A Mulher Obscura. Neste romance, publicado na década de 30, Jorge de Lima suprimirá boa parte dos experimentalismos formais presentes no primeiro livro, constituindo assim um novo romance, mais coeso em termos de estilo narrativo.
O livro Salomão e as Mulheres, que inaugura a prosa de Jorge de Lima, é uma interessante incursão dentro das possibilidades infindas da narrativa moderna, expressão nitida da herança modernista. Com uma coleção de textos cujas características formais variam bastante entre si, traz à luz a necessidade de se reinventar o fazer literário no Brasil da década de 20, ultrapassando tradições desgastadas e experimentando as possibilidades linguísticas que as vanguardas europeias inauguraram e que os artistas brasileiros reinventariam de modo bastante original. Portanto, é um livro que ilustra bem o momento em que foi publicado, momento este em que a Semana de Arte Moderna de 22 começava a colher os frutos de sua tentativa única de reinventar a arte no Brasil, sob a perspectiva do novo.
Assim, a prosa de Jorge de Lima encontra em Salomão e as Mulheres sua porção mais modernista, no sentido revolucionário da palavra, sentido esse que os idealizadores da Semana de Arte Moderna haviam buscado. |