Resumo: | Salvador, Bahia, Ladeira da Conceição da Praia, nº 26. Oficina de José Adário dos Santos, o “Zé Diabo”. A partir de uma etnografia realizada na oficina de Zé Diabo, este trabalho percorre as linhas de movimento e interação acionadas durante a ferramentaria de orixás: processo técnico de intervenção no metal e construção de artefatos que se tornam – ou são fabricados para – entidades afro-brasileiras. Partindo de uma visão processual das ferramentas, busco o modo como, no decorrer do processo técnico, deuses, coisas e pessoas dialogam entre si, constituindo-se enquanto tal e constituindo o próprio ambiente. Para isso, descrevo todas as etapas da fabricação de um Exu, que vão da revelação e do desenho, passam pela preparação dos materiais, pela forja, pela armação e pela pintura ate ser enfim entregue; para que, depois disso, a ferramenta chegue ao terreiro e seja assentada, tornando-se assim um bloco indissociável entre homens, coisas e deuses. Neste engajamento mutuo e improvisativo entre o humano, os deuses, o meio e a matéria, o fazer torna-se o elemento central de todo o dialogo, onde, ao forjar ferramentas, forjam-se também suas relações. Esta monografia e, então, uma tentativa de se aproximar da experiência prático-afetiva entre deuses, homens e coisas. |