Resumo: | O presente estudo, seguindo a linha de pesquisa da sociolinguística variacionista, examina o uso que falantes altamente escolarizados (nível superior) de classe A (renda per capita acima de R$ 6.330,00, segundo a FGV) fazem da concordância nominal de número, bem como a percepção que
apresentam acerca das duas variantes – marcação ou não marcação de plural em todos os elementos do sintagma – da variável em questão. Objetivou-se demonstrar que, em contextos de fala espontânea, os falantes em referência utilizam mais a variante inovadora, apesar de qualificarem negativamente as produções discursivas que vão contra a norma culta. Os dados foram coletados em duas etapas. Na primeira, de produção, analisaram-se sintagmas nominais plurais produzidos em
falas espontâneas e monitoradas de quatro falantes altamente escolarizados de classe A e em falas de quatro indivíduos pouco escolarizados (nível fundamental) de classe D (renda per capita de R$ 706,00 a R$ 1.125,00, segundo a FGV), tendo sido os últimos examinados apenas para efeito de
comparação. Os entrevistados foram escolhidos por conveniência. Os resultados foram confrontados e constatou-se que os usos do primeiro grupo foram muito diversos nas duas situações
de fala observadas. Dos sintagmas nominais, 75% não apresentou, na primeira situação, o plural marcado em todos os seus elementos, enquanto 97% encontrou-se, na segunda situação, em
conformidade com a variante padrão. Os usos do segundo grupo se equivaleram aos do primeiro em situações de fala espontânea. Na segunda etapa da coleta de dados, a de percepção, um questionário foi aplicado a 12 entrevistados altamente escolarizados de classe A, também escolhidos por
conveniência. Estes, para responder àquele, escutaram a três segmentos de fala. O dois primeiros provinham de mulheres que utilizavam a variante não padrão, sendo uma altamente escolarizada de classe A e a outra pouco escolarizada de classe D, e o terceiro, de um homem altamente escolarizado de classe C que marcava todos os plurais. O questionário consistia em perguntas que induziam os entrevistados a emitir, explicita ou implicitamente, juízos de valor acerca das falas contidas nos segmentos, bem como de suas próprias falas. Os resultados corresponderam ao esperado. Os dois primeiros segmentos, explicitando a variante inovadora, foram qualificados de
maneira significativamente mais negativa que o terceiro. Os entrevistados mais velhos se mostraram menos tolerantes com a variante não padrão que os jovens. Todos julgaram estar suas próprias falas mais próximas ao terceiro segmento. Em suma, concluiu-se que falantes altamente escolarizados de
classe A utilizam, em contextos de fala espontânea, majoritariamente a variante não padrão de concordância nominal de número, apesar de não admitirem fazê-lo e de qualificarem-na
negativamente quando com ela confrontados. |