Resumo: | Este é um texto de conclusão de curso de gradução produzido na disciplina intitulada “Dissertação Filosófica”. Seria, portanto, propício indicarmos o que entendemos por uma dissertação filosófica. A palavra “dissertação” é de origem latina, significando “discurso”. A palavra “Filosofia”3, no entanto, embora tenha uma etimologia proveniente do grego muito conhecida —“amor à sabedoria” —, tem gerado longos debates no decorrer da história da Filosofia, de maneira que vários autores, como, por exemplo, Ortega y Gasset, Edith Stein, Martin Heidegger, Josef Pieper, Deleuze e Guattari, Danilo Marcondes e Irley Franco, num texto lançado recentemente, entre outros, dedicaram livros exclusivos ao tema. Embora não tenhamos a pretensão de dar uma definição definitiva, acreditamos que toda prática filosófica tem por pressuposto uma definição de Filosofia, nem que seja implícita, e é a partir dessa crença que explicitaremos o nosso próprio entendimento do que é Filosofia. Podemos atrelar à prática filosófica duas características: fuga da mediocridade e transcendência. No que concerne à primeira característica, Platão, na sua República, já dizia que a prática filosófica não é para todos e justamente por não ser uma empreitada ao alcance de todos que se pode caracterizá-la como distinta da mediocridade. O filósofo busca responder questões que ainda não foram respondidas ou atingir níveis explicativos nunca alcançados. É neste sentido que dizemos que a fuga da mediocridade permeia a prática filosófica. Quanto à transcendência, não fazemos uso de alguma conotação religiosa, mas a utilizamos a partir de seu significado original. O verbo latino transcendere significa "passar por cima", "ultrapassar". De certa maneira, as duas características complementam-se, na medida em que fugir da mediocridade é, em certo sentido, passar por cima dela, embora exista a possibilidade de deixar-se de estar na média estando, simplesmente, abaixo da média —daí, vem a necessidade de introduzirmos, também, a idéia de transcendência. A partir da transcendência, pode-se criar um critério para a identificação de uma empreitada filosófica: a existência de um “metadiscurso”. Não é à toa que sempre se pode ter um estudo filosófico para todas as áreas das ciências, como se pode ver com a Filosofia da Biologia, Filosofia da Física, Filosofia da Lingüística e assim por diante. O ambiente “metadiscursivo”, portanto, é um ambiente tipicamente filosófico. O professor A. Costa-Leite costuma apontar, nas suas aulas, duas qualidades que devem ser levadas em conta na produção acadêmica: originalidade e relevância. Estas duas qualidades podem ser contrapostas às características que atrelamos à prática filosófica. A originalidade vai ao encontro da fuga da mediocridade quando se faz algo que não é comum e que, portanto, não está na média. A relevância, por sua vez, contrasta com a transcendência na medida em que se busca a superação de um estado vigente das coisas como estão dadas. Este texto, por conseguinte, terá em vista os aspectos apontados. Não se tem a pretensão aqui de resumir-se o conhecimento existente, mas de utilizá-lo como ponto de partida para que novas dimensões venham à tona na tentativa de compreensão das possibilidades do conhecimento, sempre tendo em vista o ceticismo, que, desde os primórdios da prática filosófica, tem sido uma preocupação para os filósofos. Etimologicamente, a palavra “cético”, via latim, deriva de um termo grego que tem por acepção alguém que inquire ou examina4. Parece, portanto, ser um pleonasmo adjetivar por cética uma investigação qualquer. Nossas investigações serão, de certa maneira, céticas tendo em vista uma apropriação do ceticismo como método. Filósofos como Descartes e Kant buscaram apropriar-se do ceticismo na sua refutação ao ceticismo. Temos a pretensão de efetuar, do mesmo modo, uma apropriação do ceticismo no intuito de refutá-lo. |