Resumo: | A pesquisa em questão é fruto de um trabalho contemplado pelos estudos científicos da Sociolinguística e da Criouslística, a partir das quais se fez possível o diálogo acerca da formação do Português do Brasil (PB), no que diz respeito às suas características sociais e morfossintáticas, presentes no ambiente específico da comunidade Vão de almas – um dos povoados do remanescente Quilombo Kalunga, localizado na cidade de Goiás. O intuito que rege o presente estudo está centrado na busca por aspectos sociolinguísticos que possam ser apontados como traços crioulizantes, isto é, busca-se atestar, por meio do passado histórico da comunidade e dos dados linguísticos que foram coletados na mesma, a provável influência das línguas africanas na formação do PB, no período em que o país foi colonizado e escravizado por Portugal. O corpus linguístico utilizado para análise foi estabelecido por meio de dados orais, coletados através de entrevistas individuais, submetidas ao viés quantitativo da Sociolinguística, ou seja, embasados na Teoria da Variação, proposta pelo pesquisador William Labov e, outrossim, na contribuição dada pelo olhar da Crioulística. A hipótese levantada é a de que as origens socioculturais de Vão de Almas, e seus aspectos gramaticais, como a falta de concordância nominal de número e gênero, o preenchimento e a redução do paradigma verbal, são fortes indícios de que os escravos africanos e as suas tantas línguas, deixaram resquícios na estrutura da língua brasileira. Tal presunção encontra respaldo nas semelhanças que podem ser encontradas entre as estruturas morfossintáticas do Português do Brasil e as das línguas africanas de base portuguesa. Os resultados obtidos foram os esperados, indicando que há, em Vão de almas, aspectos linguísticos e sócio históricos que corroboram para a teoria da crioulização do PB, evidenciando-se a significativa presença de tais traços nas comunidades que ainda carregam o legado africano, não só na pele, mas, sobretudo, na cotidiana vida sociocultural. |