Resumo: | Esta é uma tentativa de realizar um experimento de antropologia anarquista, juntamente aos Mebengokré (Kayapó). Percorre-se um caminho que relaciona as imagens construídas sobre os povos indígenas, suas classificações e articulações com os poderes e suas respectivas instituições desde os primeiros contatos da conquista. Logo vem uma reflexão sobre os desdobramentos dessas imagens e articulações na transformação das instituições políticas, na historia, no espaço e no território. De uma imagem inicialmente pejorativa, os Mebengokré vão se elevando gradualmente, graças a diversos motivos, um deles é a revelação de seu grandioso passado arqueológico, que envolve, entre outros aspectos, cerâmica antiquíssima e enormes aldeias circulares que acolheram grandes populações. Demonstra-se também a complexidade e profundidade de um conhecimento indígena que tem categorias científicas próprias, a respeito dos seres vivos, o espaço, os biomas. O “nomadismo” deixa de ser visto como uma caminhada sem rumo, para tornar-se um modo privilegiado de vida, transformação e construção de relações sociais e com o espaço. É através dele que se desenvolvem habilidades de construir e desenhar paisagens fartas por meio do movimento pelo território e fases mais estáveis nas aldeias. O anarquismo colabora com a reflexão antropológica ao desnaturalizar as hierarquias de poder, traz uma problematização na categorização dos humanos sob os paradigmas evolutivos e seus marcos: paleolítico/neolíticos, que se desmancham e perdem sentido também diante da singularidade dos Mebengokré, cuja espacialidade, ecologia política, caminha entre fusões e cisões comunitárias, um tipo de levante que resulta na multiplicação de aldeias no espaço que se distribuem como constelações estalares, por meio de uma demografia antiautoritária: que dilui e explode centros de poder muito densos para criar novas unidades políticas independentes, movimentos que se dirigem à grandiosidade de seu protagonismo cosmo-político. |