Resumo: | Este trabalho tem como referência a noção de saúde mental indígena, ou saúde mental em contextos indígenas, que com frequência cada vez maior é utilizada em trabalhos acadêmicos e no âmbito das políticas públicas de saúde. Por meio de abordagem teórica, busca-se problematizar o conceito de “saúde mental indígena” a partir do diálogo entre referências importantes dos campos da saúde mental e da etnologia indígena, em especial a brasileira. A crítica dos fundamentos da psiquiatria clássica empreendida pelos autores identificados com o campo da Reforma Psiquiátrica, como Basaglia, Foucault e Castel, baseada na institucionalização e na objetificação da doença mental e do doente, é relacionada com os princípios da chamada teoria perspectivista da etnologia ameríndia. Essa aproximação por analogias entre dois campos teóricos bastante distantes enseja caminhos potenciais para a construção de ações e abordagens mais adequadas às situações indígenas associadas ao campo de atuação da saúde mental. A partir desses dois marcos teóricos – o da Reforma Psiquiátrica e o do Perspectivismo Ameríndio –, propõe-se algumas leituras para problemas como o suicídio indígena, por meio de estudos etnográficos sobre os contextos mais críticos de epidemia de suicídios na América do Sul. ________________________________________________________________________________ ABSTRACT The notion of indigenous mental health, or mental health in indigenous contexts, is the main reference of this work. Through a theoretical approach, this work aims to problematize this notion, building a dialogue between important references of mental health and Brazilian ethnology fields. The critique of classical psychiatry given by authors like Basaglia, Foucault and Castel, identified with psychiatric reform is based on the notions of institutionalization and objectification of mental disease and of the diseased. This critique is here related and compared to the principles of the so called perspectivista theory in Amerindian ethnology. This approach, through analogies between two very different theoretical fields, promotes potential pathways for the building of more adequate actions in indigenous mental health. Through those two theoretical references – psychiatric reform and Amerindian perspectivism –, some readings are proposed for problems such as indigenous suicide, taking a review of ethnographical studies on critical contexts in South America. |